Boltaña fica longe.
Não só em termos de quilómetros mas sobretudo em termos de graus. 50 km numa
estrada que faltou às aulas de física e desconhece o movimento rectilíneo
separam a bonita povoação de Boltaña da decente estrada que liga Huesca a
Sabiñanigo. Cerca de 237 curvas depois, já na noite de dia 9 de Abril,
chegámos. Uma lumachela de paleontólogos não fez duvidar que era ali o local
de encontro. Um brinde de recepção ao som tradicional da “Ronda de Boltaña” deu
o mote ao início de mais um Encontro de Jovens Investigadores em Paleontologia!!
Vista para Oeste de Boltaña, um dos muitos vales modelados
na paisagem.
Dia 10 de Abril, pelas 9h, já a sala de conferências da
Comarca de Sobrarbe estava muito composta, reflexo da forte aderência a este
congresso (mais de 100 participantes). Após algumas palavras introdutórias dos
organizadores do evento e de uma apresentação do Geoparque de Sobrarbe
conduzida por duas das responsáveis pela divulgação do mesmo, deu-se início às
comunicações científicas pelas 10h45. A viagem começou no Ordovícico com
trilobites (Sofia Pereira, link do post "Registo de Trilobites de Mação no XII EJIP") e seguiu oceano fora
com os peixes cartilaginosos (Humberto G. Ferrón). O Paleozóico terminou por
aqui mas o EJIP mal começara e regressou aos invertebrados com os detalhes
internos dos braquiópodes jurássicos do Jorge Colás, um trabalho com bastante
potencial para a sistemática do grupo. Continuou-se em grupos de duas valvas,
mas desta vez bivalves cretácicos (Pablo Font, com um resumo que conta como
co-autor o português Pedro Callapez) e Alba Sánchez-García fechou a primeira
série de comunicações com uma apresentação gráfica e cientificamente muito
cuidada sobre Tanaidáceos cretácicos preservados em âmbar.
Após a primeira pausa para café e com a sala mais cheia por
participantes que entretanto chegaram (já dissemos que é difícil chegar a
Boltaña??), chegou a primeira de muitas comunicações dinossáuricas (afinal, e
mesmo extintos, continuam a fazer jus ao seu tamanho nas edições do EJIP).
Víctor Fondevilla divertiu-nos com a situação dos seus afloramentos, Irene
Prieto e Adrián Ruiz-Galván mostraram que o início da investigação só depende
da vontade dos alunos e a restante manhã seguiu dedicada aos dinossáurios, ora
numa perspetiva mais morfométrica (Antonio Alonso), ora a suscitar “inveja” da
possibilidade do uso de microtomografia (Mattia Antonio Baiano), fechando com Carlos de Miguel Chaves numa espécie de CSI montado a um exemplar histórico de
Lariosaurus.
Carlos de Miguel Chaves - Perspectiva histórica del ejemplar
de Lariosaurus (Sauropterygia) de Estada (Huesca, España)
Da parte da tarde,
Diego Castanera entrou “pelos pés” de dinossáurios (resumo que conta com a
portuguesa Vanda Santos como co-autora), passou o testemunho a Paul Emile
Dieudonné, único francês participante que num castelhano muito perceptível nos
brindou com uma comunicação bastante promissora para a filogenia dos
ornitópodes. Seguiu-lhe Adrián Páramo, numa quase aula sobre árvores
filogenéticas aplicadas a Saurópodes, Guillermo Rey Martinez ainda em
saurópodes (tíbia), voltámos aos ornitópodos com o Francisco Javier Verdú e
todos se entusiasmaram com a apresentação de Daniel Vidal sobre como obter
modelos tridimensionais por fotogrametria (apostamos que o uso de 3D no próximo EJIP
será substancialmente crescente).
Adrián Paramo -
Comparativa entre los algoritmos de elaboración de superárboles filogenéticos
de Sauropodomorpha (Dinosauria)
Daniel Vidal - Obtención de modelos tridimensionales
mediante fotogrametría
Após uma pausa para café protagonizada por umas deliciosas
bolachas paleontológicas “Fósiles de Sobrarbe” de produção local, o primeiro
dia de conferências terminou com a magistral conduzida por Juan Rofes, dotado
de uma capacidade de transmissão que fez os 60 minutos de palestra voarem entre
dentes e fémures de micromamíferos.
Jorge Colmenar, um dos organizadores e participante do
encontro com um atractivo póster sobre braquiópodes ordovícicos, encerrou o
primeiro dia surpreendendo o colega (também Jorge e também braquiopodista)
Jorge Colás com um fato de Braquiópode, uma surpresa para assinalar a sua
despedida de solteiro que divertiu a plateia.
Jorge Colmenar e Jorge Colás em modo braquiópode
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