A revista Historical Biology apresentou um novo estudo sobre os grandes dinossáurios carnívoros do Jurássico Superior de Portugal. Este estudo foi desenvolvido por investigadores da Sociedade de História Natural de Torres Vedras envolvendo também a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e o Grupo de Biología Evolutiva da UNED de Madrid.
A presença no Jurássico Superior de Portugal de uma forma de dinossáurio terópode estreitamente relacionada ao género Ceratosaurus, descrito na Formação de Morrison, oeste dos Estados Unidos da América, tinha sido previamente proposta com base em escassos elementos de um único indivíduo e alguns dentes isolados.
Recentemente, foram encontrados, na sequência da revisão das colecções de paleontologia da Sociedade de História Natural, em Torres Vedras, novos fósseis identificados a este grupo de dinossáurios.
O novo exemplar foi recolhido praia de Valmitão (Lourinhã) e fazia parte de uma colecção privada, recentemente entregue à tutela da Sociedade de História Natural.
O decorrer deste estudo permitiu verificar que os exemplares pertencem ao mesmo indivíduo descrito no ano 2000. Assim, este estudo permitiu relacionar duas partes do mesmo indivíduo, recolhidas na mesma localidade mas em diferentes momentos e depositados em distintas instituições.
No seu conjunto, o exemplar previamente descrito e o material agora identificado, constituem o registo mais completo de ceratossáurios na Península Ibérica e o mais completo registo do género Ceratosaurus fora da America do Norte.
Elisabete Malafaia na Morrison Formation (USA)
Assim, os fósseis portugueses acrescentam informação importante para o conhecimento da evolução paleobiogeográfica deste grupo de terópodes e para testar de que forma essa evolução foi afectada pela abertura do Atlântico Norte. O estudo agora publicado apresenta novas evidências de que a distribuição de Ceratosaurus se estendeu para além do território que corresponde actualmente à América do Norte até à Europa. Previamente, foram notadas algumas diferenças entre os exemplares portugueses e as formas norte-americanas de Ceratosaurus, as quais deverão ser reavaliadas aquando da descoberta de novo material.
Elisabete Malafaia com um resto fóssil de Ceratosaurus
Nas últimas décadas tem-se vindo a reconhecer uma grande similaridade, em determinados grupos de dinossáurios, entre as faunas do Jurássico Superior da Formação de Morrison e de Portugal. Esta semelhança tem sido interpretada como resultado de intercâmbios de faunas através do proto-Atlântico Norte. Contudo, a presença de outros grupos exclusivos do registo português, sugere um cenário de separação (vicariância) incipiente das populações de vertebrados em ambos continentes, provocada pela relativamente recente abertura do sector norte do Atlântico. Estes processos de vicariância poderão ter-se manifestado de diferentes formas em distintos grupos de organismos, justificando a combinação de formas partilhadas e endémicas actualmente conhecida no registo do Jurássico Superior português.